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HOMILIA NO XXVI DOMINGO COMUM A 2014 - SOLENE TOMADA DE POSSE CANÓNICA DE SÃO TIAGO DE VILA NOVA DE ANHA2014-09-28
Que vos parece?! Pergunta Jesus aos seus interlocutores, nesta parábola, tão simples e tão sugestiva, que quase se assemelha a um conto infantil. Pois bem, eu vou dizer-vos o que me parece a mim, neste início de ano lectivo, pastoral e catequético (na nossa Diocese e Paróquia de São Tiago de Vila Nova de Anha), inspirando-me naquela grande figura da Igreja que foi Bartolomeu dos Mártires, cujos quinhentos anos do seu nascimento estamos a celebrar e que vai desdobrar-se em torno do lema "Família comunidade de vida e de amor".! Aqui vos deixo três observações, que julgo pertinentes: 1. A primeira observação, é uma palavra de advertência para mim, vosso Pároco hoje empossado, para os pais, professores, catequistas e demais educadores cristãos: é preciso cultivar e conquistar, uma autoridade moral, com base na prática concreta dos gestos, e não fiada ou iludida na fluência ou influência das palavras! “Palavras leva-as o vento”, diz-se na gíria popular! Às palavras, devem preceder e prevalecer os factos; aos princípios morais deve corresponder uma conduta coerente. Não há melhor ensinamento, do que o exemplo pessoal. Isto é realmente óbvio. Mas esquecemo-lo facilmente. 2. A segunda observação, em compensação, é uma palavra de consolação e de esperança, sobretudo aos pais e às famílias em geral. Vede bem: até Deus Pai, o Pai celeste, o Pai perfeito, parece “fracassar” na sua missão educativa! Também Ele, de repente, vê os seus filhos, os mesmos que tantas vezes lhe disseram «sim», a virar as costas, a bater a porta, a escolher outro caminho! Também Deus, o Pai bom, de quem procede toda a paternidade (Ef.3,14-15), topa com um «não de facto», da parte de um filho seu. E isto deve consolar a tantos pais, a quem tantas vezes, se quer culpabilizar exclusivamente pelas escolhas dos filhos. Nem sempre são os pais, os responsáveis pelas opções dos filhos! Pelo contrário, um amor real, autêntico, dá aos filhos a possibilidade de dizerem «não». O amor verdadeiro não cria, nem quer o «não», mas torna-o possível! E, por outro lado, a parábola também dá aos pais e aos educadores cristãos a esperança de que esse «não» seja necessário e temporário. Às vezes, no percurso dos filhos, este «não» pode ser salutar, por ser autêntico, por fazer parte de uma crise inevitável, no seu processo de crescimento. Curiosamente, como o percebemos, no final da parábola, Jesus tinha uma misteriosa simpatia pelos rebeldes, pelos desalinhados, pelos fora-da-lei. Há, na verdade, alguns que se tornam rebeldes, por amor, que vivem uma fidelidade ferida e sofrida, e de quem ainda se pode esperar uma mudança, na melhor direção. Estes rebeldes são preferíveis aos meninos alinhados, encadernados, obedientes por desafeto, que, tantas vezes, vivem uma fidelidade de fachada! Por isso, o caminho da rebeldia nem sempre é um caminho sem saída. Eis porque, em todo o caso, a virtude principal dos pais continuará a ser a da esperança! Os verdadeiros pais não perdem a esperança no arrependimento dos filhos, rezam para que isso aconteça e procuram, sobretudo, dia a dia, ser coerentes com o que dizem, para não perder a autoridade moral do seu testemunho. 3. A terceira observação é mais de caráter pastoral! Devemos ser mais ousados, em “procurar os afastados, em convidar os excluídos” (EG 24). Muitas vezes, os que nos parecem dizer “não”, os que nos parecem pouco recomendáveis, tal como Zaqueu (Lc.19,1-10), estão à espera que passemos debaixo da árvore das suas vidas e os convidemos a descer, para seguir Jesus e O servir com todas as suas riquezas. Muitas vezes, são esses, de quem nada se esperaria, de quem se julgava nem valer a pena chamar e convidar… que agarram e aproveitam a oportunidade, a graça do chamamento e do envio e fazem a vontade do Pai. 4. Parábola surpreendente, esta, não é verdade? Tão cheia de actualidade e de pertinência! Vejamos, então, mais alguns pormenores que nos podem sugerir, agora, uma linha de acção eficaz neste dealbar de Ano Pastoral. “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Está claro, nesta ordem do pai a seu filho, o convite dirigido por Deus a cada um a trabalhar na vinha do Senhor. Convite a todos, a começar pelos últimos, pelos mais pecadores, pelos mais humildes, pelos mais fracos! “Consola-nos saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes” (Bento XVI). São João Paulo II (cf. CFL 45ss) partiu deste texto evangélico, que acabamos de escutar, para nos convocar à missão. Foi em 1988, quando escreveu a Encíclica Christisfideles laici (sobe a missão dos leigos na Igreja de Jesus Cristo). Retomando algumas expressões suas, permiti-me desafiar-vos, caros paroquianos de São Tiago de Vila Nova de Anha e fiéis doutras paragens, ao trabalho da vinha, tomando as idades da vida, como ponto de referência: 4.1. O primeiro convite vai para as crianças: “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Queridas meninas e meninos, permanecei fiéis à catequese e à Eucaristia Dominical. Atraí convosco, para a Igreja, os vossos pais e amigos. E semeai, nas vossas casas, nas escolas e nesta Igreja, os dons da alegria e da ternura! 4.2. O segundo convite vai para os adolescentes. “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Prossegui a vossa caminhada de fé na catequese, comprometei-vos nalguma forma de voluntariado, dentro e fora da Igreja! Dai alegria e Vida, às nossas celebrações, como acólitos, cantores, no serviço da liturgia e no colorido da assembleia! Fazei da Eucaristia, a fonte perene da vossa rebeldia! 4.3. O terceiro convite chega agora aos jovens. Sei que aspirais a coisas grandes, que quereis comprometer-vos por um mundo melhor. “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Servi a Igreja, caros jovens, como leitores, acólitos, catequistas, escuteiros, cantores, visitadores de doentes. Na Escola ou no trabalho, nos bares e nos cafés, mostrai as razões da vossa esperança! E fazei da Eucaristia, fermento de pureza e de beleza, nos meios da vossa convivência. 4.4. O quarto convite é dirigido à idade adulta. Como o sol declina do seu alto, assim esta idade começa a perder o ardor da juventude. Mas é a idade de maior estabilidade, de maior seriedade no compromisso, de maior capacidade e equilíbrio para as tarefas pastorais. A todos os adultos, deixo aqui o apelo do Senhor: “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Continuai a ajudar e a colaborar alegremente na Catequese, nos movimentos da Paróquia, nas equipas de asseio e embelezamento da nossa Igreja (que está maravilhosamente linda hoje, como em todos os grandes dias de festa), da Pastoral Familiar, das Vocações ou da Animação. Dinamizai a Caridade na Comunidade através das Conferências de S. Vicente de Paulo, dos Visitadores de Doentes, dos voluntários do nosso lar de idosos. Dai voz e solenidade ao canto coral! Mas sobretudo e em primeiro lugar: acompanhai o crescimento integral dos Vossos filhos, sede testemunhas e profetas da esperança no mundo do trabalho. Ajudai outros casais. Mas sobretudo, «fazei da vossa família uma pequena Igreja e fazei da Igreja, a vossa grande família». Esclarecei e crescei na fé, através da Catequese de adultos e da leitura orante da Bíblia. 4.5. E, finalmente, aos mais velhos, etapa da vida em que o Sol se põe, vai o mesmo chamamento: “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”. Agora, mais livres, sois a sabedoria oferecida às nossas Vidas. Orai muito. Aconselhai sempre. Colaborai com os filhos, na educação da fé dos vossos netos. Ajudai-nos a manter a “Porta aberta”, na guarda e vigilância das nossas vidas mais tenras. Sois os que estais mais próximos da recompensa final. Procurai, todos, viver de maneira digna do Evangelho de Cristo! 5. Irmãos e irmãs: Como dizer «não» a este pedido e convite “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha”, a este Pai tão bom que nos chama e envia, e jamais nos pagaria como um simples patrão? Digamos-Lhe simplesmente: “Eis-me aqui, podeis enviar-me; sou um “simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor” (Bento XVI). Nesta disponibilidade me coloco eu! E “dou graças Áquele que julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço”. Convosco serei Padre e para vós serei Pároco! Amém!