Notícias
  • project
  • project
OITAVÁRIO DE ORAÇÕES PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS2021-01-15

INTRODUÇÃO AO TEMA PARA O ANO 2021

PERMANECEI NO MEU AMOR E PRODUZIREIS MUITOS FRUTOS(CF. JOÃO 15,5-9)

“Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o vinhateiro. Todo sarmento que, em mim, não produz fruto, ele o arranca, e todo sarmento que produz fruto ele o poda, o purifica a fim de que produza mais. Vós já estais purificados pela palavra que eu vos disse. Permanecei em mim como eu permaneço em vós! Do mesmo modo que o sarmento não pode produzir fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos: aquele que permanece em mim e no qual eu permaneço, esse produzirá fruto em abundância, pois, separados de mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é jogado fora, como o sarmento, e seca; depois são ajuntados, jogados ao fogo, e queimam. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será concedido. O que glorifica meu Pai é que produzais fruto em abundância e vos torneis meus discípulos. Assim como o Pai me amou, também eu vos amei: permanecei no meu amor. Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como, observando os mandamentos de meu Pai, eu permaneço no seu amor. Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita. Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que se despoja da vida por aqueles a quem ama. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo permanece na ignorância do que faz o seu senhor; chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi junto de meu Pai vo-lo fiz conhecer. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e designei para irdes produzir frutos e para que o vosso fruto permaneça, de modo que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos concederá. O que eu vos ordeno é que vos ameis uns aos outros” . (João, 15, 1-17)

Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos (cf. João 15,5-9)

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em 2021 foi preparada pela Comunidade Monástica de Grandchamp . O tema que foi escolhido - Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos - está baseado em João 15,1-17 e expressa a vocação para a oração, reconciliação e unidade na Igreja e na família humana, presente na Comunidade de Grandchamp. Nos anos da década de 1930 um grupo de mulheres da Reforma que vinha de uma parte da Suíça de fala francesa, conhecido como “Damas de Morges”, redescobriu a importância do silêncio na escuta da Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, elas reviveram a prática de retiros espirituais para alimentar sua vida de fé, inspiradas no exemplo de Cristo que se retirava para rezar em um lugar isolado. Elas foram logo seguidas por outras pessoas que participavam regularmente de retiros organizados em Grandchamp, um pequeno povoado perto das bordas do Lago Neuchâtel. Tornou-se necessário providenciar um ambiente permanente de oração e acolhimento para o crescente número de convidados e retirantes. Hoje a comunidade tem cinquenta irmãs, cinquenta mulheres de diferentes gerações, tradições eclesiais, países e continentes. Em sua diversidade as irmãs são uma parábola viva de comunhão. Elas permanecem fiéis a uma vida de oração, vida em comunidade e acolhimento de convidados. As irmãs partilham a graça de sua vida monástica com visitantes e voluntários que vão a Grandchamp para um tempo de retiro, silêncio, cura e em busca de sentido de vida. As primeiras irmãs experimentaram a dor da divisão entre as Igrejas cristãs. Nessa dificuldade foram encorajadas por sua amizade com o abade Paul Couturier, um pioneiro da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Portanto, desde seus mais distantes inícios, a oração pela unidade dos cristãos estava no coração da vida da comunidade.

Permanecer no amor de Deus é estar reconciliado consigo mesmo

As palavras francesas para monge e freira (moine/moniale) vêm da palavra grega µónos que significa sozinho e um. Nossos corações, corpos e mentes, longe de estarem em unidade, estão muitas vezes espalhados, puxados em várias direções. O monge ou a freira desejam ser um consigo mesmos e estar unidos em Cristo. “Permanecei em mim como permaneço em vós”, nos diz Jesus (Jo 15,4a). Uma vida bem integrada pressupõe um caminho de auto aceitação, de reconciliação com nossas histórias pessoais e herdadas. Jesus disse aos discípulos “permanecei no meu amor” (Jo 15,9). Ele permanece no amor do Pai (Jo 15,10) e tudo que deseja é partilhar conosco esse amor: “Chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi junto de meu Pai vo-lo fiz conhecer” (Jo 15,15b). Simbolizado na vinha, que é o próprio Jesus, o Pai se torna nosso vinhateiro, que nos poda para nos fazer crescer. Isso descreve o que acontece na oração. O Pai é o centro de nossas vidas, ele nos poda e nos plenifica para darmos frutos. Seres humanos assim dão glória ao Pai. Permanecer em Cristo é uma atitude interior que gera raízes em nós com o correr do tempo. Ela pede espaço para crescer. Pode ser superada pela luta diante das necessidades da vida e é ameaçada por distrações, ruídos, atividades e desafios da vida. Nos distúrbios da Europa em 1938, Geneviève Micheli, que mais tarde se tornaria Madre Geneviève, a primeira mãe da comunidade, escreveu estas linhas que permanecem relevantes ainda hoje: Vivemos numa época que é perturbadora e, ao mesmo tempo magnífica, um tempo perigoso onde nada preserva a alma, onde rápidas conquistas totalmente humanas parecem varrer pessoas para longe... E penso que nossa civilização morrerá nessa loucura coletiva de barulho e velocidade, onde ninguém consegue pensar... Nós, cristãos, que conhecemos o pleno valor de uma vida espiritual, temos uma imensa responsabilidade e precisamos cumpri-la, unir e ajudar uns aos outros e criar forças de calmaria, refúgios de paz, centros vitais onde o silêncio das pessoas clama pela criativa palavra de Deus. É uma questão de vida ou morte.

Permanecer em Cristo para produzir fruto

“O que glorifica meu Pai é que produzais fruto em abundância” (Jo 15,8). Não podemos produzir fruto só por conta própria. Não podemos dar fruto separados da vinha. É a seiva, a vida de Jesus fluindo em nós, que produz fruto. Permanecendo no amor de Jesus, sendo um ramo da vinha, é o que permite que sua vida flua através de nós. Quando ouvimos Jesus, essa vida flui em nós. Jesus nos convida a deixar sua palavra permanecer em nós (Jo 15,7) e então tudo que pedirmos será feito para nós. Pela palavra dele produzimos fruto. Como pessoas, como comunidade, como Igreja inteira, desejamos nos unir a Cristo a fim de guardar seu mandamento de nos amar uns aos outros como ele nos tem amado (Jo 15,12).

Permanecendo em Cristo, a fonte de todo amor, o fruto da comunhão cresce

Comunhão com Cristo exige comunhão com os outros. Doroteus de Gaza, um monge na Palestina no século VI, expressou isso da seguinte maneira: Imagine um círculo desenhado no chão, isto é, uma linha circular desenhada com um compasso e um centro. Imagine que esse círculo é o mundo, o centro é Deus e os raios são os diferentes caminhos ou maneiras de viver do povo. Quando os santos, desejando ser desenhados perto de Deus, andam para o meio do círculo, à medida que penetram no seu interior, vão ficando mais próximos uns dos outros; e quanto mais próximos uns dos outros estiverem, mais próximos ficarão de Deus. Compreendemos que a mesma coisa se aplica de modo inverso quando nos afastamos de Deus e vamos para a parte de fora do círculo. Então se torna óbvio que quanto mais nos afastamos de Deus mais nos afastamos uns dos outros e, quanto mais nos afastamos uns dos outros, mais longe de Deus vamos ficando. Buscar proximidade com outros, viver juntos em comunidade com outros, pessoas às vezes bem diferentes de nós, pode ser um desafio. As irmãs de Grandchamp conhecem esse desafio e para elas o ensinamento do irmão Roger de Taizé é muito útil: “Não há amizade sem sofrimento purificador. Não há amor ao nosso próximo sem cruz. Só a cruz nos permite conhecer a incompreensível profundidade do amor” . Divisões entre cristãos, que se afastam uns dos outros, são um escândalo porque nos afastam também de Deus. Muitos cristãos, movidos pela tristeza dessa situação, rezam ferventemente a Deus pela restauração daquela unidade pela qual Jesus orou. A oração de Jesus pela unidade é um convite para voltarmos a ele e assim ficarmos mais próximos uns dos outros, alegrando-nos com a riqueza da nossa diversidade. Como aprendemos vivendo em comunidade, esforços para a reconciliação são custosos e pedem sacrifícios. Estamos sustentados pela prece de Jesus, que deseja que possamos ser um como ele é um com o Pai para que o mundo creia (Jo 17,21).

Permanecendo em Cristo, cresce o fruto da solidariedade e do testemunho

Embora nós, como cristãos, permaneçamos no amor de Cristo, também vivemos numa criação que geme enquanto espera ser libertada (cf. Rom 8). No mundo percebemos os males do sofrimento e dos conflitos. Através da solidariedade com aqueles que sofrem permitimos que o amor de Cristo circule através de nós. O mistério pascal gera fruto em nós quando oferecemos amor aos nossos irmãos e irmãs e alimentamos esperança no mundo. Espiritualidade e solidariedade estão inseparavelmente ligadas. Permanecendo em Cristo, recebemos a força e a sabedoria para agir contra as estruturas de injustiça e opressão, para nos reconhecer por completo como irmãos e irmãs na humanidade, e para sermos criadores de um novo modo de vida, com respeito e comunhão para toda a criação. O sumário da regra de vida que as irmãs de Grandchamp recitam juntas, cada manhã, começa com as palavras “ rezemos e trabalhemos para que Deus possa reinar”. Oração e vida diária não são duas realidades separadas mas são feitas para estar unidas. Tudo que experimentamos é destinado a se tornar um encontro com Deus.

Para os oito dias da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em 2021, propomos um roteiro para cada dia:

Dia 1. Chamados por Deus: “Vós não me escolhestes, eu vos escolhi” (Jo 15,16a).

Dia 2. Amadurecendo internamente: “Permanecei em mim, como permaneço em vós” (Jo 15,4a).

Dia 3. Formando um corpo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12b).

Dia 4. Orando juntos: “Já não vos chamo servos... chamo-vos amigos” (Jo 15,15).

Dia 5. Deixando-se transformar pela Palavra: “Vós já estais purificados pela Palavra” (Jo 15,3).

Dia 6. Acolhendo outros: “Ide produzir frutos, frutos que permaneçam” (Jo 15,16b).

Dia 7. Crescendo na unidade: “Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos” (Jo 15,5a).

Dia 8. Reconciliando com toda a criação: “Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita” (Jo 15,11)..